"Vindo das bandas da Serra da Estrela, conduzindo e guardando cerca de 1000 cabeças de gado ovino e caprino, seis pastores chegaram com o seu rebanho, aos pIanaltos do Montemuro, nos últimos dias de Junho. É tradição longínqua a transumância dos rebanhos das terras da Beira para a Serra de Montemuro, nesta época do ano. Só que, desta vez. esperava-os dias de autentica invernia, que os isolou no alto de Serra, sem abrigo e sem alimentação adequada. A chuva e o granizo, tocados por forte ventania, fustigavam montes e vales, deixando-os encharcados e a tremer de frio.
Assim passaram noites e dias sem poderem arredar pé, sem poderem procurar abrigo onde pernoitar e enxugar as roupas. O rebanho irrequieto, devido ao mau tempo, exigia dos pastores vigilância redobrada. Os lobos famintos acercavam-se do rebanho, espreitando oportunidade para o golpe fatal. Logo no primeiro dia, uma ovelha caiu nas garras dos lobos. Cães e pastores não foram suficientes para o evitar. Os lobos sabem como furtar-se à vigilância daqueles.
Confrontados com tamanha invernia os homens dormiam de pé à volta do seu rebanho, encostados a um penedo, em noites que pareciam não terem fim. Tudo estava encharcado; mato, terreno, rebanho, cães e pastores. Com a lenha molhada, nem uma fogueira conseguiam acender para se aquecerem e afugentar os lobos. A escuridão e o silêncio das noites só eram quebrados pelo cintilar dos relâmpagos e o ribombar dos trovões.
Este panorama prolongou-se por vários dias e a situação dos pastores era desesperada. Alimentavam-se com refeições frias e não tinham roupas enxutas.
Foi então que a população da Gralheira acorreu em seu auxílio, escalando dois homens dia e noite, para guardarem o rebanho, enquanto os pastores descansavam e dormiam nas cavidades abrigadas debaixo dos penedos. Levaram-lhes também o seu apoio e conforto moral e lenha seca para poderem cozinhar refeições quentes. Dois tiveram que abandonar a serra por motivos de saúde, ficando só quatro homens com o rebanho. O tempo entretanto melhorou e lá continuam na serra os heróis que resistiram ao temporal, dormindo de pé, para não abandonarem as suas ovelhas."
Carlos da Oliveira Silvestre in Crónicas da Serra
Fica o link para mais umas crónicas:
4 comentários:
Detesto estas ventoinhas!!! a destruição das nossas serras!!!
concordo com o xu
Está calor, as serras são quentes, o homem destroi visualmente as serras para pôr lá uns girocopos e umas coisas modernas para refrescar o pessoal...
o que não inventam!!!
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